Seguimos dando continuidade à nossa série de 6 textos que abordam estratégias de comunicação e experiências do uso de diagramas como instrumentos de especializar informações e apresentar projetos de arquitetura.
AMPLIAÇÃO DO CONCEITO – Diagrama contemporâneo
A partir de Foucault, Deleuze e Guattari temos uma nova dimensão de discussão e uso dos diagramas na arquitetura contemporânea, como um instrumento que se amplia ao articular mecanismos sociais, políticos, econômicos, culturais e psicológicos.
Passos (2007) indica que “um diagrama não é uma estrutura, é muito mais uma rede flexível e transversal, define práticas, procedimentos ou estratégias e formam essa cartografia sempre em desequilíbrio. […] É a exposição das relações de forças que constituem o poder, é o mapa das relações de forças, mapa de densidade, de intensidade, que procede por ligações não-localizáveis e que passa constantemente por todos os pontos cartográficos, todos os pontos do mapa: dos “arquipélagos punitivos” aos dispositivos e máquinas abstratas difundidas por todo corpo social” (PASSOS, 2007, p. 6). Complementando, “diferentemente da concepção diagramática da arquitetura moderna, que tendia à funcionalidade ou à estrutura, segundo Deleuze e Guattari, o diagrama não tem relação com a estrutura: ele precede e supera a forma; não é nem mecânico, nem orgânico, tem dimensão não estrutural e informal. […] em sua versatilidade e adaptabilidade, os diagramas são sensores do ambiente, vetores em direção a um projeto social […]” (MONTANER, 2017, p.34-35).
Neste contexto, foram selecionadas discussões e práticas de arquitetos contemporâneos que utilizam o diagrama como instrumentos nos processos de projeto de arquitetura e urbanismo. O objetivo é apresentar contribuições e contradições relevantes para o entendimento do uso de diagramas em processos diagramáticos de projeto, neste trabalho. Os diagramas de projeto utilizados por esses arquitetos podem ser entendidos a partir de cinco tipos principais: conceituais (Bernard Tschumi), funcionais (SANAA e UNStudio), formalistas (Peter Eisenman e BIG), paramétricos (Zaha Hadid e MVRDV) e processuais (Rem Koolhaas/OMA e Eduardo Arroyo).
1998 . SANAA
Diagrama funcional do Teatro Municipal
Na arquitetura japonesa do SANAA, “os diagramas servem para relacionar as atividades com os espaços” (MONTANER, 2017, p.67), em um projeto de arquitetura modular e de forma não definida: “parte do programa, transforma-se em organograma, e este, em um diagrama que se mantém como base essencial do projeto de arquitetura” (MONTANER, 2017, p.67).
1999 . Eduardo Arroyo
Diagrama da Plaza del Desierto
Influenciado por Koolhaas, o arquiteto espanhol Eduardo Arroyo, fundador do NO.MAD, elabora seus diagramas de projeto “a partir dos dados da realidade: a estrutura social, urbana e paisagística em que se atua, procurando desvendar e prever seus vetores de transformação” (MONTANER, 2017, p.56). No projeto da Plaza del Desierto (1999), Arroyo e a paisagista Teresa Galí-Izard utilizaram diagramas como uma estratégia de comunicação com dados específicos que, segundo Montaner (2017, p.56), “vão se cruzando e intercambiando, evoluindo e se modificando”, em uma “trama de diferentes materiais e relevos, diversos inputs (aço e pedra, madeira e terra, bosque e verde, água e cascalho) provenientes da memória do lugar, camadas que sobrevivem como uma espécie de DNA do entorno” residencial e se adaptam a um terreno irregular.
Acompanhe as postagens no blog para acompanhar essa série e nos siga no Instagram!
REFERÊNCIAS
Adaptado por Carolina Amarante Boaventura a partir da dissertação:
BOAVENTURA, Carolina A. Processos diagramáticos de projeto no espaço socioinformacional: Uma experiência no ensino de projeto de Arquitetura. Dissertação de Mestrado, NPGAU/UFMG. Orientadora. Denise Morado. 2017. Disponível em: https://praxis.arq.ufmg.br/textos/disserta-boaventura.pdf
Referências:
– MONTANER, Josep Maria. Do diagrama às experiências, rumo a uma arquitetura de ação. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. 192p.