Por Sibelle Meyer

A crítica em arquitetura, assim como em qualquer outro campo do conhecimento, é uma prática comum feita há algum tempo. A teoria da arquitetura é um campo com amplo desenvolvimento de pesquisas, dentro e fora das academias e, consequentemente, com a produção de uma vasta literatura. 

Haveria uma teoria da crítica em arquitetura? Existe uma metodologia a ser seguida? Primeiro devemos pensar no papel que a crítica representa na produção arquitetônica.

Por se tratar de uma disciplina prática, a arquitetura é aprendida através da experimentação. Assim como nos ateliês de projeto, nas escolas aprendemos através da própria vivência do processo e da observação crítica do trabalho de outros profissionais. “Quanto mais vemos, experimentamos e absorvemos, mais pontos de referência temos para nos ajudar a decidir em que direção seguir” (Hetrzberger,1991).

Uma prática comum dentro das aulas de projeto é a análise de obras análogas, que visa a ampliação do nosso repertório de referências de forma a auxiliar no processo projetual. Não se trata da cópia de modelos que devem ser seguidos, mas da análise crítica de obras e soluções possíveis. Segundo alguns autores, como Kowatowski e Watson, a análise crítica de obras, e, por consequência, a observação do fazer contribuem para o desenvolvimento da criatividade. 

Moneo (2008) utiliza a análise da obra dos arquitetos selecionados para investigar sobre as possíveis estratégias utilizadas pelos mesmos, deixando claro não haver uma forma única de trabalhar ou um método padrão a ser seguido.

O que Moneo faz é o que Zein (2018) chama de “reconhecimento crítico referenciado de uma obra”, visando à compreensão de possíveis estratégias, nas quais é importante que os objetivos pretendidos com a análise estejam bem definidos.

Por que a análise deve ser referenciada? Uma vez que uma obra não existe sozinha e o trabalho do seu autor não é simplesmente uma questão de resposta a um problema, para um determinado “problema” existem várias “soluções” possíveis. Sendo assim, devemos levar em consideração as questões extrínsecas ao processo e não apenas aquelas diretamente relacionadas ao mesmo, que levaram à escolha de determinada solução.

É preciso que entendamos a “vivência” do arquiteto, sua trajetória e o contexto histórico, político e social no qual cada projeto se insere, assim como as diversascamadas de significado que se sedimentam sobre uma edificação ou espaço urbano ao longo do tempo.

Outro ponto importante a ser considerado é a vivência de quem realiza a análise, pois a mesma, assim como o processo de projeto, é relativizada pela vivência do autor. Em relação à vivência, incluímos a percepção da ambiência espacial vivida por quem faz a análise. É preciso ter a experiência corpórea do espaço. Existem dimensões em um projeto que não podem ser percebidas apenas através dos elementos representativos, como plantas, cortes ou imagens.

A análise pura e simples, sem um fim específico, em nada contribuiria para a produção de conhecimento. Sendo assim, devemos ter claro quais são as nossas intenções de forma a objetivar a análise de uma obra. Não é uma questão de seguir uma metodologia rígida, mas traçar um caminho com um ponto de chegada específico. Este caminho deve ser definido por quem analisa, pois só quem faz a análise é capaz de determinar onde quer chegar.

Reveja outros projetos com objetivos semelhantes, em publicações, mas especialmente em loco, para ver como eles encaixam a proposta aos objetivos, e com que sucesso. Isso não é feito com o espírito de imitação (…) mas para preparar a mente com critérios e alternativas para o processo criativo que virá. (…) O arcabouço de um profissional é o seu conhecimento de uma ampla gama de alternativas (Lynch,1962:116)

    1. Para saber mais sobre este processo sugerimos a leitura de Como arquitetos e designers pensam de Bryan Lawson.
    2. Segundo os dois professores a criatividade é uma habilidade desenvolvida.
    3. Termos utilizados por Bryan Lawson (2011) – problemas, soluções e processo de projeto – ao discutir o processo de projeto, sua prática e seu aprendizado. “A solução de um projeto não é apenas o resultado lógico do problema e, portanto, não há nenhuma sequência de operações que garanta o resultado. (LAWSON, 2011:121).
    4. Termos utilizados por Bryan Lawson (2011) – problemas, soluções e processo de projeto – ao discutir o processo de projeto, sua prática e seu aprendizado. “A solução de um projeto não é apenas o resultado lógico do problema e, portanto, não há nenhuma sequência de operações que garanta o resultado. (LAWSON, 2011:121).
    5. As percepções não são experiências, uma vez que são meros registros de estímulos sem contextualização, julgamento e significado. As percepções dos sentidos interagem com a memória e a imaginação para constituir uma experiência total integrada com distintas conexões e significados. Na atividade de projetar arquitetura, a habilidade mais árdua e valiosa é intuir ou simular experiência da entidade não-existente em termos físicos. (PALLASMAA, 2018: 114).

 

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