Carolina Boaventura
(In)definições do conceito de diagrama na arquitetura
Ao analisarmos a etimologia da palavra diagramma, do latim e do grego, temos dia-, que significa “através de”, e –gramma, como “o que é desenhado” – ou seja, “através do que é desenhado”. Neste sentido, o diagrama na arquitetura pode ser entendido como a espacialização das informações por meio do que é desenhado.
Segundo Garcia (2010), o diagrama como a espacialização das informações pode ser identificado desde a pré-história, o que resulta em uma diversidade de definições e conceitos – “na verdade, o próprio conceito de diagrama traz sua possibilidade de abertura, o fato essencial de que seus significados não estão definidos, e sim em constante transformação” (MONTANER, 2017, p. 8). A amplitude do conceito de diagrama traz em si a versatilidade e o potencial como instrumento de desenvolvimento e apresentação de projetos de arquitetura – processo e produto.
Para exemplificar, apresentamos, em 6 textos, uma série de 23 recortes que abordam estratégias de comunicação e experiências do uso de diagramas como instrumentos de especializar informações e apresentar projetos de arquitetura.
Assim, como um conceito que se amplia ao longo dos anos, espera-se que estas experiências contribuam na ampliação da visão do diagrama como instrumento para conhecer lugares, analisar informações, desenvolver um projeto e apresentar um projeto.
1858 . Catharine Beecher
Fisiologia e calistenia para escolas e famílias
Estudos de especialistas anglo-americanas, como Catherine Beecher, que sistematizavam “o funcionamento dos interiores para facilitar e dar visibilidade ao trabalho das mulheres no espaço doméstico” (MONTANER, 2017, p.27), apontaram o potencial dos diagramas como estratégia de comunicação da eficiência da rotina nos espaços ao representar os movimentos das mulheres no espaço usando diagramas como instrumentos de espacializar informações.
1917 . Christine Frederick
Engenharia de eficiência doméstica
Entendendo o movimento das pessoas no espaço, “autoras como Lillian Gilbreth, Christine Frederick, Mary Pattison, Catherine Palmer e Jane Callaghan” (MONTANER, 2017, p.29) apresentaram, no campo da engenharia, os diagramas como instrumentos para representação da funcionalidade e da eficiência dos espaços.
Esses diagramas funcionalistas foram centrais na arquitetura moderna como “meio de promover o movimento ideal” (SOUZA, 2010, p.29). Segundo PAI (2002 apud MONTANER, 2017, p.27), nesse período surgiram, nos Estados Unidos, os diagramas modernos que influenciariam projetos de arquitetura de arquitetos europeus nas décadas de 1920 e 1930 como “Bruno Taut, Alexander Klein, Walter Gropius e Ernst Neufert” (MONTANER, 2017, p.29).
1928 . Alexander Klein
Casa funcional
Influenciado pelos diagramas funcionalistas, Alexander Klein apresenta a funcionalidade de uma casa a partir da representação dos fluxos dos usuários. Na planta A do projeto arquitetônico, nomeada pelo arquiteto como “mau exemplo”, a casa apresenta fluxos cruzados e desordenados; já na planta B, nomeada como “bom exemplo”, o arquiteto apresenta de forma diagramática a organização dos fluxos como estruturante da eficiência da rotina doméstica, usando diagramas como instrumentos de espacializar informações.
1936 . Ernst Neufert
Medidas do corpo
Após se aprofundar nos estudos do movimento do corpo humano, assim como fizeram as especialistas anglo-americanas do final do século XIX, Ernst Neufert lançou, em 1963, a primeira edição do livro “Arte de Projetar em Arquitetura”. No livro, reconhecido mundialmente até os dias de hoje, o arquiteto estrutura o entendimento dos espaços tendo “o ser humano como medida da arquitetura” (FRANCO, 2014) e o diagrama como instrumento de representação dos espaços ocupados pelos movimentos dos usuários.
O livro conta, ainda, com o potencial do instrumento na estratégia de comunicação que auxilia os leitores em “como desenvolver um projeto arquitetônico” a partir das dimensões necessárias aos movimentos dos usuários.
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REFERÊNCIAS
Adaptado por Carolina Amarante Boaventura a partir da dissertação:
BOAVENTURA, Carolina A. Processos diagramáticos de projeto no espaço socioinformacional: Uma experiência no ensino de projeto de Arquitetura. Dissertação de Mestrado, NPGAU/UFMG. Orientadora. Denise Morado. 2017. Disponível em: https://praxis.arq.ufmg.br/textos/disserta-boaventura.pdf
Referências:
– FRANCO, José Tomás. “O ser humano como medida da arquitetura” [En Detalle: El Ser Humano como medida de la Arquitectura], 2014. ArchDaily Brasil. (Trad. Stofella, Arthur). Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/623095/o-ser-humano-como-medida-da-arquitetura> ISSN 0719-8906. Acesso em Junho/ 2021
– MONTANER, Josep Maria. Do diagrama às experiências, rumo a uma arquitetura de ação. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. 192p.
– PAI, Hyungmin. The Portfolio and the Diagram: Architecture, Discourse, and Modernity in America. 2002. Cambridge, MA: The MIT Press. apud MONTANER, Josep Maria. Do diagrama às experiências, rumo a uma arquitetura de ação. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. 192p.