Seguimos dando continuidade à nossa série de 6 textos que abordam estratégias de comunicação e experiências do uso de diagramas como instrumentos de especializar informações e apresentar projetos de arquitetura.
1999 . MVRDV
Diagrama de Metacity/Datatown
A partir do desenvolvimento de diferentes diagramas em seus projetos de arquitetura e urbanismo, o MVRDV desenvolveu “programas virtuais a partir de uma série de mecanismos racionais passíveis de serem sistematizados em diagramas e simulações – como o Function Mixer (mesclador de funções), o Region Maker (construtor de regiões) e o Spacefighter (guerreiro do espaço) […]” (MONTANER, 2017, p.54). Através dos programas, os diagramas representam e articulam informações que dão a forma ao espaço a partir de parâmetros, para eles, “a informação é a forma” (MONTANER, 2017, p.54).
No diagrama do projeto DNB Bank Headquarters, as informações do lugar (ex.: conexões, visadas e insolação) incidem sobre um volume composto por pixels, subtraindo unidades e gerando a /forma.
2001 . Bernard Tschumi
Diagrama do Museu de Arte Contemporânea
O arquiteto suíço Bernard Tschumi utiliza os diagramas como instrumentos de representação do conceito norteador do projeto:
“O diagrama para mim é uma representação gráfica de um conceito. Não existe arquitetura sem um conceito. Arquitetura é a materialização de um conceito. Essa primeira materialização é frequentemente um diagrama porque eu não posso ir de um conceito para uma edificação sem primeiro passar por uma série de estágios; alguns altamente abstratos e outros muito materiais. O diagrama é um dos primeiros passos no processo. Alguns de meus projetos são inteiramente feitos através de diagramas (como meu Museu de Arte Contemporânea, em São Paulo). Eu esboço o diagrama e então os arquitetos em meu escritório traduzem o diagrama em 3D e, eventualmente, pouco a pouco, ele se torna arquitetônico” (GARCIA, 2010, p.196, tradução nossa).
No projeto do Museu de Arte Contemporânea (2011), em São Paulo, o diagrama conceitual, desenvolvido por Tschumi, estrutura o espaço e os materiais em razão do movimento e da ação das pessoas no espaço; a cor vermelha utilizada para destacar as circulações internas revela, no exterior da edificação translúcida, o conceito dos fluxos que nortearam o projeto arquitetônico. Para Tschumi, “arquitetura não é simplesmente sobre espaço e forma, mas também sobre eventos, ações e o que acontece no espaço” (TSCHUMI, 2017).
2001 . UNStudio
Diagrama do Museu da Mercedes-Benz
Os arquitetos holandeses do UNStudio “levaram os diagramas às quatro dimensões, introduzindo o volume e o tempo” (MONTANER, 2017, p.56). Para eles, “diagramas são […] ferramentas visuais para a compressão da informação […] como parte de uma técnica que promove uma abordagem prolífica, geradora e instrumentalizadora para o design. A essência da técnica diagramática é que ela introduz qualidades de trabalho não faladas, desconectadas de um ideal ou uma ideologia, randômica, intuitiva, subjetiva, não ligada a uma lógica linear – qualidades que podem ser físicas, estruturais, espaciais ou técnicas. […] Existem três estágios para o diagrama: seleção, aplicação e operação, permitindo a imaginação estender para sujeitos fora delas e desenhá-los dentro, mudando ela mesma no processo. […] Diagramas são acondicionados com a informação em vários níveis. Um diagrama é uma montagem de situações, técnicas, táticas e funcionamentos solidificados” (GARCIA, 2010, p.224-227, tradução nossa).
A prática diagramática do escritório holandês parte das condições do campo para o desenvolvimento de projetos arquitetônicos na “qual o tempo é o fator determinante” (MONTANER, 2017, p.56). Os diagramas do UNStudio articulam diferentes informações que sustentam o projeto arquitetônico e os usos no espaço, “fundindo a vertente ética do diagrama, enquanto fluxo interno, e sua vertente estética e formal de apelo visual” (MONTANER, 2017, p.56), como no Museu da Mercedes-Benz, em Stuttgart (2001).
2007 . Zaha Hadid
Modelo do Heydar Aliyev Cultural Centre
A arquiteta anglo-iraquiana Zaha Hadid destacou-se pelo uso de diagramas como instrumentos paramétricos, “transformando as formas imaginadas à medida que variam certos parâmetros” (MONTANER, 2017, p.54).
Zaha Hadid aponta uma questão central nos processos diagramáticos: as definições espaciais e formais em razão da articulação de informações e parâmetros no desenvolvimento de projetos de arquitetura e urbanismo.
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REFERÊNCIAS
Adaptado por Carolina Amarante Boaventura a partir da dissertação:
BOAVENTURA, Carolina A. Processos diagramáticos de projeto no espaço socioinformacional: Uma experiência no ensino de projeto de Arquitetura. Dissertação de Mestrado, NPGAU/UFMG. Orientadora. Denise Morado. 2017. Disponível em: https://praxis.arq.ufmg.br/textos/disserta-boaventura.pdf
Referências:
– GARCIA, Mark (Coord). The diagrams of architecture. Chichester: Wiley, 2010. 320 p. (AD Reader)
– MONTANER, Josep Maria. Do diagrama às experiências, rumo a uma arquitetura de ação. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. 192p.
– TSCHUMI, Bernard. Museum of Contemporary Art, Sao Paulo, 2001. Disponível em: <http://www.tschumi.com/projects/22/>. Acesso em julho de 2017.
*Imagem de capa:
Disponível em: <https://www.archdaily.com/206060/bromilia-house-urban-recycle-architecture-studio>. Acesso em setembro de 2022.