Por Sibelle Meyer
Faleceu hoje, aos 92 anos de idade, o arquiteto e professor Paulo Mendes da Rocha.
Há cerca de um ano, venho estudando não apenas as obras de Paulo Mendes, mas também o seu discurso, uma vez que o foco de minha pesquisa é a relação entre o discurso do arquiteto e sua produção arquitetônica. Nesta época de pandemia, onde estamos todos “enclausurados” confesso ter me perdido em um mundo digital, onde descobri um universo de possibilidades de ouvir a fala das pessoas que comungam dos mesmos interesses. Descobri o “Youtube” e sua infinidade de vídeos, como o registro de palestras, aulas, entrevistas e documentários.
Isso me fez sentir um pouco mais próxima dos meus “objetos de estudo”, eles começaram a fazer parte do meu dia a dia, quase uma convivência. Por isso vou me dar a liberdade de falar como se realmente conhecesse o Paulo Mendes.
Em sua fala durante o evento Ocupação Artigas, no Itaú Cultural, em 2015, Paulo Mendes afirmou sua admiração pelo poder agregador de Artigas, pela forma como despertava, no seu interlocutor, o interesse por aquilo que era dito.
O que fazia parte da consciência deste homem enquanto professor, era a urgência de dizer, de ensinar, com a esperança que você então faria. Não é que ele já dizia como deveriam ser as coisas (Paulo Mendes,2015)
Vou fazer aqui, minhas as suas palavras, mas em relação ao autor. A sua paixão pela profissão era notória. Sua lucidez e objetividade nos transmitiam a tranquilidade da simplicidade do ato de projetar. Não que o processo em si fosse simples, mas a partir de uma leitura atenta do objeto, a resposta a ser dada seria natural.
A Arquitetura é a satisfação de desejos. (…) Nenhum arquiteto pode dizer que inventou a casa. Você veja, por exemplo, um romance que você gosta muito, ou um conto, da literatura, os ingredientes que estão lá, paixões, ciúme, um homem, uma mulher, uma barata que seja, você não inventou nada disso, você arruma aquilo para contar uma história. A história não é você que inventa, é engendrada pela condição humana no universo. Então a casa existe de sempre … (ROCHA, Paulo Mendes, 2017:3’50”)
Falando sobre a contextualização da Praça do Patriarca, projeto de 92, Paulo Mendes nos diz que a relação do objeto com o entorno transmite ao observador, de forma indireta, a lógica de sua construção. Lógica que compreendida contém um discurso. “E o discurso (no caso) é antes de mais nada um elogio. Um elogio à cidade” (…) “No fundo todo projeto de arquitetura, toda construção é um discurso” com base em um raciocínio não apenas técnico, mas “lírico e poético” sobre a criação da memória cultural. (ROCHA, Paulo Mendes, 2017: 9’27”).
Este olhar “lírico e poético” que o Paulo Mendes tinha sobre a arquitetura nos encantava tanto em sua obra quanto em seu discurso. Ao descrever uma obra, não falava apenas da técnica ali envolvida, da qual tinha um domínio invejável, mas nos contava um “caso” com uma graça ímpar.
Em nós fica a lição de que devemos viver com graça e singeleza para assim como na arquitetura amparar a imprevisibilidade da vida, afinal tudo é projeto.
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