Por Profa. Dra. Tatiana Alves
Um dos primeiros registros relacionados a projetos de arquitetura comercial e de escritórios aparecem com a revolução mercantilista quando o edifício absorve a função de administração comercial e a separação entre habitação e trabalho se evidencia de forma mais clara. No entanto, foi durante a revolução industrial, que o edifício comercial e de escritórios surgiu como um produto da necessidade de centralização administrativa da produção e gerenciamento de serviços.
Os avanços tecnológicos na construção civil, a evolução dos elevadores e dos equipamentos auxiliares de trabalho – telefone e máquina de escrever, juntamente com o surgimento da luz elétrica aliado ao crescimento econômico foi decisivo para dar início, no final do século XIX, à construção de edifícios comerciais dedicados ao uso de escritórios.
O edifício comercial de escritório reflete na sua organização espacial as relações de trabalho da sociedade a que pertence. Os edifícios do final do XIX e início do século XX refletiram os preceitos do trabalho administrativo elaborado por Frederick Taylor, o taylorismo, cuja ideia dominante era a padronização de métodos e ambientes de trabalho. Esta organização do trabalho se traduziu em uma ocupação espacial interna pouco compartimentada que lembrava ainda as plantas industriais, onde as mesas de trabalho dispostas lado a lado em fileiras paralelas, numa mesma direção, estavam sob a vista dos supervisores.
Já as décadas de 1910 e 1920 trouxeram mudanças nos processos de trabalho empresarial estabelecendo organizações hierárquicas e otimizadas em prol de um aumento da eficiência. Essa organização se traduziu na compartimentação interna do edifício e no surgimento de salas cuja localização e dimensão iam ao encontro da hierarquia funcional da instituição.
A década de 60 redireciona o olhar para as relações humanas que envolvem o trabalho. O conceito de projeto de escritório panorâmico, condena a massificação e a segregação hierárquica e o resultado espacial proposto traduz esquemas funcionais mais orgânicos, distribuição do mobiliário segundo linhas de fluxo e relações de proximidades, definidas a partir da realidade das inter-relações cotidianas entre as pessoas, documentos e informações. Nascia também todo um repertório de mobiliário modular capaz de permitir ocupações das formas mais variadas possíveis.
Os anos 80 chegam trazendo uma visão corporativa baseada em redução dos custos – fruto da crise do petróleo vivida na década anteriores, agilidade nos processos de trabalho e aumento da capacidade de produção. Ao encontro a esta mentalidade vimos surgir, incorporada a rotina dos escritórios, os computadores pessoais e as redes de comunicação. Os projetos de escritório passam a trazer como premissa a flexibilidade, e sistemas acoplados aos edifícios, tais como os de piso elevado, passam a fazer parte da arquitetura interna dos edifícios, permitindo constantes rearranjos internos.
A rápida evolução tecnológica e a progressiva globalização que ocorrem em meados da década de 90 acentuam as mudanças na organização das empresas. A tecnologia da informação, a crescente mobilidade dos empregados, a tendência à miniaturização dos equipamentos permitiu que as empresas quebrassem barreiras físicas e temporais. A localização da empresa já não é tão importante e esta não precisa alocar todos os funcionários. A sede da empresa passa a ser um ponto centralizador da informação e do trabalho, que pode estar distribuído em qualquer ponto da cidade ou do mundo.
A arquitetura dos edifícios comerciais de escritório absorve esta necessidade de agilidade que o mercado exige das empresas. Passa-se a viver fortemente a era da informação. A palavra-chave passa a ser intercâmbio de informações e a comunicação e interação entre as pessoas são condições essenciais para que isto ocorra. Os projetos de arquitetura de interiores dos escritórios passa a enfatizar ainda mais as áreas de trabalho abertas e integradas, com divisórias baixas que permitem o contato visual entre os membros da equipe. Verifica-se uma simplificação do posto de trabalho em justaposição à sofisticação tecnológica. As mesas dispõem de poucas gavetas, ou mesmo nenhuma; os armários individuais foram reduzidos ao mínimo ou eliminados. As áreas com necessidade de certo grau de privacidade utilizam divisórias altas com vidro garantindo a permeabilidade visual. Aparecem neste contexto salas de reunião virtuais e posto de trabalho aterritoriais do tipo “conectar e trabalhar”. Os espaços de convivência humanizados passam a ser enfatizados como áreas de interação que buscam aprimorar as relações interpessoais.
O final dos anos 90 e os anos 2000 trazem uma evolução capaz de modificar ainda mais a estrutura da organização espacial interna dos edifícios de escritórios composta em sua essência pela separação de áreas de trabalho e áreas de convívio social. A criação do “Wi-Fi” libera as atividades da necessidade de uma rede de conexão física e possibilita que em qualquer lugar e a qualquer momento o trabalho seja realizado.
Edifícios comerciais e espaços para coworking
Esta evolução abre caminho para um novo modelo de trabalho na era da economia do conhecimento, no qual organizações com arranjos flexíveis, orientadas a uma percepção empreendedora, buscam impulsionar seus negócios por meio de uma cultura de gestão do networking, pautada numa lógica comunitária colaborativa, promotora de parcerias temporárias. Vê-se a consolidação assim nos últimos anos dos espaços de trabalho denominados de espaços para coworking. Os espaços para coworking, assumem a flexibilidade e a ideia de comunidade como aspectos centrais e disponibilizam os recursos necessários às expectativas e atividades do trabalhador da economia do conhecimento. Em termos físicos, os espaços para coworking se utilizam das premissas contemporâneas dos escritórios coorporativos – utilização de graus de privacidade variados, áreas de trabalho abertas e integradas, permeabilidade visual e propõem arranjos espaciais e mobiliários que buscam intensificar as experiências de convivência.
Os espaços para coworking parecem ter vindo para ficar uma vez que se posicionam entendendo e se modelando conforme as novas dinâmicas do trabalho. Resta agora observar como as relações de trabalho absorverão as novas demandas de mundo pandêmico e como estas questões serão traduzidas e consolidadas nos espaços de trabalho.
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