diagramas

Seguimos dando continuidade à nossa série de 6 textos que abordam estratégias de comunicação e experiências do uso de diagramas como instrumentos de especializar informações e apresentar projetos de arquitetura.

1964 . Christopher Alexander

Diagrama de requisitos

Os patterns -padrões- de Christopher Alexander apontaram o potencial dos diagramas como ferramentas metodológicas na investigação de processos de projetos de arquitetura atemporais, compartilhados e conectados ao contexto. Os patterns de Alexander podem ser entendidos como a soma de partes de um todo, em um sistema pautado pelas “experiências; isto é, as preferências psicológicas e perceptivas das pessoas. […] na busca por um modo atemporal de construir que é reconstituído a partir da soma desses patterns, fragmentos territoriais, espaciais e técnicos adequados” (MONTANER, 2017, p. 47). Apoiados nas novas tecnologias cibernéticas e da construção, a metodologia de parâmetros de projeto de arquitetura de Alexander, promovia “uma arquitetura mais versátil, relacional, maleável, participativa e capaz de se adaptar ao contexto” (MONTANER, 2017, p. 47).

projetos de arquitetura

Figura: Notes on The Synthesis of Form (1964), Christopher Alexander. Disponível em: < http://predmet.fa.uni-lj.si/siwinds/s2/u4/su4/S2_U4_su4_p4_4.htm> Acesso em Julho/ 2017

 

1967 . Peter Eisenman

Diagrama da House I

No trabalho do arquiteto e teórico Peter Eisenman, o diagrama foi ganhando relevância cada vez maior e adquiriu um papel central no desenvolvimento de seus projetos arquitetônicos, como evidenciado em seus livros “Diagram Diaries” (1999) e “Feints” (2006). Eisenman defende que o diagrama insere a temporalidade e a transformação do espaço, na “concepção da arquitetura como um processo, com especial ênfase na sintaxe […] sintetizada nos processos diagramáticos” (MONTANER, 2017, p.62). O uso do diagrama pelo arquiteto não visa agregar informações relativas à funcionalidade, ao contexto e às experiências, e sim, explorar o potencial dos diagramas como instrumentos operacionais de formas geométricas e abstratas, em “uma arquitetura movida por suas lógicas internas, onde os diagramas permitiriam revelar interioridades e autonomias da forma” (MONTANER, 2017, p.62).

Neste sentido, Eisenman aponta que o uso tradicional do diagrama “na arquitetura tem sido para pegar a motivação interna e a transformá-la em externa”. Por exemplo, quando um diagrama de nove quadrados é abstraído de uma vila paladiana e então transformado no processo de projeto arquitetônico de uma edificação contemporânea [ver Rudolf Wittrower], o passo inicial é a redução da motivação externa da vila em um diagrama internamente motivado. Então, na transformação do diagrama em uma edificação contemporânea, o processo retorna à motivação de onde ela começou, para uma edificação real” (GARCIA, 2010, p. 207, tradução nossa).

diagramas arq

Figura: Diagrama do projeto House I, em New Jersey (1967), Peter Eisenman. Disponível em: <http://www.eisenmanarchitects.com/house-i.html#images >Acesso em Julho/ 2017

 

1975 . Michel Foucault

Diagramas como máquina abstrata

Em 1975, o livro “Vigiar e punir: nascimento da prisão” de Michel Foucault alterou o modo de pensar a política social. Passos (2007) afirma que a partir de análises das prisões e do poder de punir, Foucault aponta a passagem da sociedade de soberania para a sociedade disciplinar, na qual elemento representativo é o dispositivo Panóptico, resgatando a ideia de Jeremy Bentham no final do século XVIII.

diagrama

Figura: Panóptico, de Jeremy Bentham (1787), Habraken. Disponível em: < https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.093/168> Acesso em Julho/ 2021

Segundo Souza (2010), Foucault encontra no Panóptico uma ‘instância’ que articula simultaneamente dois conceitos: o concreto e o abstrato. Citando Deleuze e Guattari, o autor apresenta o diagrama como “uma máquina abstrata que constrói um real por vir”, articulando “matéria (multiplicidade humana) e função (o controle de desta multiplicidade).”

Nesse sentido o diagrama supera, em seu aspecto abstrato, a ideia de um sistema de signos prévios, “lidando com fluxos, fluídos, funções, isto remexe a matéria, forma, energia, redes” (DELEUZE, 1988, p. 34 apud TEYSSOT, 2012), incorporando novas estratégias para desenvolver um projeto e apresentar um projeto.

Acompanhe as postagens no blog para acompanhar essa série e nos siga no Instagram

 

REFERÊNCIAS

Adaptado por Carolina Amarante Boaventura a partir da dissertação:

BOAVENTURA, Carolina A. Processos diagramáticos de projeto no espaço socioinformacional: Uma experiência no ensino de projeto de Arquitetura. Dissertação de Mestrado, NPGAU/UFMG. Orientadora. Denise Morado. 2017. Disponível em: https://praxis.arq.ufmg.br/textos/disserta-boaventura.pdf

Referências:

– DELEUZE, Gilles. Foucault. Tradução: Seán Hand. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1988. apud  TEYSSOT, Georges. O Diagrama como Máquina Abstrata. Tradução: Paulo Ortega. V!RUS, São Carlos, n. 7, jun. 2012. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br /virus/virus07/?sec=3&item=1&lang=pt>. Acesso em julho de 2016.

– GARCIA, Mark (Coord). The diagrams of architecture. Chichester: Wiley, 2010. 320 p. (AD Reader)

– MONTANER, Josep Maria. Do diagrama às experiências, rumo a uma arquitetura de ação. São Paulo: Gustavo Gili, 2017. 192p.

– SOUZA, Douglas Lopes de; ALONSO, Carlos Egídio. A configuração do discurso do diagrama na arquitetura contemporânea. 2010, 139f Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Disponível em: <https://goo.gl/uFq2FK>. Acesso em julho de 2016.

Precisa de ajuda?